Vampire Knight Tale
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..:: Breaking the Ice - Cap. VIII ::.. Missing - Pg 12

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Mensagem por Convidad Qua Abr 11, 2012 9:16 pm



    ..:: Breaking the Ice - Cap. VIII ::.. Missing - Pg 12 Missing



    Spoiler:
    ..:: Raphael simplesmente havia desaparecido e uma suspeita terrível invadia Sara, rasgando-a ao meio. A notícia sobre a morte de Alexander Grifftis, sobre a morte de Cristine Calicki misturavam de maneira perigoso com o desaparecimento do mestiço, mas Sara nunca poderia imaginar que o destino mudaria tanto. ::..


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    "Já faz uma semana..." - Sara olhou para suas anotações, tentando focar sua mente naquelas fórmulas químicas e naqueles números, mas sua mente tratava de formar uma combinação confusa e mais uma vez a atenção dela estava sobre a carteira vazia duas fileiras depois da dela. Havia uma semana que ninguém ocupava aquele lugar.
    Sara mordeu a ponta da caneta e ergueu sua folha diante dos olhos, forçando-se a pensar no que estava escrito ali, nas frases do professor, mas seu peito doía profundamente, sua mente fazia questão de lhe lembrar a carteira vazia.

    A carteira vazia a fazia se lembrar do som do vidro rachando e então ela abria os olhos lentamente e via Raphael sangrando, ferido e seu peito doía ainda mais, como se nenhuma dor fosse o bastante.

    O vidro da caneta trincou e ela se estilhaçou, a tinta azul manchando os dedos e a folha de caderno de Sara. Havia momentos como aquele que a dor era tão insuportável que ela não conseguia conter seus impulsos. Se ao menos ele estivesse ali ela tinha certeza que poderia odiá-lo mais facilmente. Deveria ser assim.
    Ela fechou os olhos apertados, eles estavam úmidos novamente, seus dentes acertaram seu lábio inferior com força e ela sentiu o gosto férrico se misturar ao gosto de saliva. Não seria mais fácil, seria impossível.

    Seus pés tocaram o chão e ela apressou-se em destacar uma folha de papel e limpar os dedos. Não poderia ficar na aula, novamente, ela não conseguia se concentrar, ela não conseguia pensar em outra coisa por mais que se esforçasse e ela estava se esforçando o máximo que conseguia.
    Os olhares dos demais alunos moveram-se para ela sem nenhuma emoção ao surpresa, ninguém parecia importado com o sumiço de Raphael Grifftis, afinal ele era um mestiço, ele não tinha nenhum valor ali.

    Sara jogou as folhas soltas que rabiscara durante as aulas dentro de seu fichário e então apanhou o estojo, jogando tudo dentro de sua mochila e saindo apressada. Um suspiro resignado do professor foi tudo o que ela ouviu. Ao menos alguém estava sendo paciente com ela.

    Os passos de Sara ecoavam pelo corredor vazio, sua mochila parecia pesar toneladas sobre os ombros e o escuro não a ajudava enxergar bem o caminho. sim, era uma vampira, mas seus olhos cheios de lágrimas a impediam de ver um palmo a frente.

    Ela caminhou o mais rápido que pode, afastando-se o máximo para ter certeza de que estava sozinha nos corredores e então escorou o ombro na parede, fechando os olhos apertados e se abraçando. A dor poderia ter ao menos esperado ela chegar no quarto dessa vez?

    As mãos de Sara apertavam seus braços com força enquanto ela se curvava para frente, seu corpo escorregando lentamente até ela cair de joelhos.

    Onde ele estava? Onde ele havia ido naquela noite? Sara sentia que a cada dia que passava ela ficava mais distante de descobrir o que havia acontecido com Raphael, que ele nunca mais voltaria e aquela certeza parecia arruiná-la ao invés de aliviá-la.

    Fora sincera quando disse que não queria vê-lo ferido, se vingara com o beijo em pleno baile, com palavras cruéis, mas ela nunca imaginou que algo poderia acontecer, pensou que seria ignorada como sempre fora.

    Mas ele estava tão ferido e tão preocupado em feri-la, sequer deixou que ela cicatrizasse seus ferimentos, não queria lhe dar um segundo de trégua, queria feri-la da maneira mais profunda. Mas ele não entendia, nunca entenderia que ela simplesmente não se importou com o que ele estava fazendo, ela só queria que ele se sentisse melhor.

    Ainda assim em meio a tanta dor, a toda a dor que aquele momento deveria ter proporcionado, Sara não conseguiu odiá-lo. Os sentimentos descobertos noite após noite gritavam e agora ela não conseguia controlá-los enquanto suas mãos descobriam o corpo de Raphael, enquanto ele a descobria. A dor misturou-se ao desejo e depois transformou-se em algo que ela nunca imaginou que sentiria.

    Ela não o culpava, se aquilo o faria se sentir melhor então que ele transasse com ela o quanto quisesse, mas ele não percebia que estava tudo errado, ou talvez Sara tivesse perdido completamente o senso do que era certo e errado porque ela o havia desejado intensamente, cada toque parecia despertá-la ainda mais para tudo que ela queria fechar os olhos. Ela estava mergulhando no mar de gelo e sua pele queimava, seus lábios queimavam e ela sentiu que poderia morrer naquela noite.

    Um soluço escapou dos lábios dela, seu corpo tremia com as lembranças que ainda guardava, lembranças que significavam tanto para ela e que ela nunca saberia o que eram para ele. Raphael desaparecera e deixara apenas um monte de notas manchadas com seu sangue, talvez fosse aquilo que ela valesse.

    Mais um soluço, os beijos dele ardiam em sua pele, o corpo dele parecia se encaixar perfeitamente ao dela e ela estava aconchegada sobre o peito dele depois de tudo, depois de nada.
    O toque alto do celular a assustou e ela apressou em secar o rosto, olhando em volta. Quem poderia estar lhe ligando? Ela retirou o aparelho do bolso, sentindo os dedos vacilarem ao tocar o aparelho, lembrando-se da noite em que Raphael o roubou. Como ela poderia esquecê-lo depois de tudo?

    Na tela, o número e o nome de seu pai brilhavam e Sara sentiu-se apreensiva. Se ela atendesse o telefone naquele estado seu pai certamente se preocuparia, certamente deixaria tudo e iria atrás dela, por outro lado havia uma semana que Sara sequer escrevia para ele, ou postava algo para seus amigos.

    - A-alo? - a voz dela saiu abafada e ouve um curto silêncio do outro lado da linha.

    - Sara? - o pai parecia em dúvida se era ou não sua filha, afinal a voz da pessoa do outro lado não lembrava nada o tom feliz de Sara ao atendê-lo.

    - Sim - ela responde de modo curto, queria evitar ao máximo que ele ouvisse sua voz, suas mãos tremiam enquanto ela tentava manter o aparelho próximo ao ouvido, seus olhos ainda deixavam cair grossas lágrimas, mas ela tinha que se conter.

    - Sara... - um longo suspiro escapou o outro lado - Seu professor me ligou, ele está muito preocupado com você. O que está acontecendo querida? - o tom do pai era amoroso e cheio de compreensão e aquilo cortou o coração de Sara ainda mais, o peso do esforço inútil dela a fez soluçar e perder o pouco controle que ainda mantinha.

    - Papa... - a voz de Sara saiu num fio e ela fungou, secando o rosto - papa... - ela mal conseguia falar, pensar no que dizer. Seria tão bom se Fernando estivesse ali, embora ela não soubesse o que contaria para ele, mas ter o pai por perto, ter a pessoa que sempre fora seu norte, talvez a poupasse um pouco da dor.

    - O que fizeram com você Sara? - a voz dele tornou-se então séria ao perceber o desespero da filha.

    - Nada... - ela conseguiu dizer numa voz rouca, esmagada - Papa... uma pessoa... - ela precisava se esforçar para que ele entendesse e para que ela falasse o necessário - m-meu amigo... - ela tentava, mas não conseguia. Amigo, Raphael nunca fora seu amigo.

    - O que houve Sara? Ele te disse algo? Ele está ferido? É aquele amigo que você me disse que a mãe morreu? - Fernando sentias-se cada vez mais agoniado com o sofrimento na voz da filha, ela mal podia falar e ele sentias-se impotente.

    - Papa... ouça... - ela precisava falar o nome dele, mas ele parecia ferir sua garganta, prender-se ali e não querer sair - ele... ele se chama... - Sara respirou fundo diversas vezes, sua mão apertada, fechada sobre o colo enquanto ela se encolhia contra a parede - .... papa... ele... Raph...ael... G...Grifftis...

    - Raphael Grifftis? Quem é ele? - Fernando andava de um lado para o outro enquanto sentada na beira da cama Clara encarava o marido. Havia acontecido algo com Sara?
    - Ele... - os lábios de Sara pareceram secar e ela passou a mão pela testa, estava quente como se sentisse febre. Como ela poderia explicar quem ele era? - ...sumiu... - ela não sabia o que dizer além disso.

    - Espere - Fernando suspirou novamente, parecia mais aliviado ao perceber que o problema não era com ela, mas com o amigo - Seu amigo desapareceu, é isso?

    - Sim - mais uma resposta curta. Era muito além daquilo, certamente ele estava desaparecido por culpa dela, talvez Edgar não tenha se contentado com uma surra, talvez Cristine não tenha aceitado a traição.

    - Raphael Grifftis, você quer que eu procure algo? - Fernando falava agora num tom mais brando, acenando a mão para que Clara aguardasse.
    - Sim - Sara repetiu e ela apenas desejava que o pai parasse de dizer o nome dele e que aquela pontada aguda que sentia toda vez que ouvia aquelas duas palavras parece de fazer seu peito doer.

    - Sara meu amor, fique calma. Ele é tão importante assim? - Fernando disse com ares de gracejo, mas seu sorriso logo sumiu ao ouvir apenas o silêncio do outro lado - Desculpe, eu sei que deve estar preocupada, você sempre se ligou muito aos seus amigos. Eu vou fazer o possível, entrarei em contato com o conselho e a associação, verei se sabem de algo. Mas Sara... você não pode faltar às aulas.

    - Desculpe... - Sara tirou a franja de sobre os olhos, sua mão apertando ambas a têmporas ao mesmo tempo, piscando os olhos diversas vezes. Não sentia nenhuma alívio com o fato de pedir aquilo a Fernando - e-eu vou me esforçar... - ela fungou e passou a mão sob o nariz. Levantar-se da cama todas as noites, passar por corredores e pelo pátio e perceber que não havia o menor sinal de Grifftis já era um esforço imenso, mas ela não poderia deixar de obedecer Fernando.

    - Sara, fique calma, sua mãe quer falar com você. Eu te prometo, vamos encontrar seu amigo, eu não vou medir esforços, mas se você se deixar desanimar desse modo, faltar as aulas, o que ele vai encontrar quando voltar? Vamos meu amor, eu prometo que vou trazê-lo de volta para você - a voz de Fernando transmitia uma segurança que encorajaria qualquer outro, mas Sara sabia que ele estava prometendo algo que não poderia cumprir. Não era mais como quando ela era criança e ele prometia as coisas que para ela eram impossíveis e ele realizava.

    - Tudo bem, eu estou com saudades de mamãe - ela cortou a resposta do pai, era melhor não se iludir ainda mais do que já se iludia todas as noites antes de dormir.

    - Filha! - Clara tomou o telefone das mãos de Fernando e os dois pareceram discutir algo, mas Clara tapara o bocal do aparelho - Sara, o que está havendo? - o tom da mãe era mais inquisidor, Clara não faria promessas para Sara apenas para agradá-la, queria explicações da garota.

    - E-eu já expliquei para o papai - Sara limitou-se a responder e Clara admirou-se com o tom da filha, baixo, sem a menor sombra da alegria que sempre trazia.

    - Sara... o que está havendo de verdade? - a voz da mãe tornou-se mais doce ao perceber que realmente havia algo grave acontecendo.

    - Eu já expliquei - como um disco com respostas gravadas, Sara repetia suas próprias frases. Sentia-se tão exausta que mesmo com saudades dos pais ela não queria mais falar com eles.
    - Tudo bem meu amor, eu só queria ajudar - a frase de Clara vez Sara sentir-se ainda pior, mas ela não conseguia falar, ela não era corajosa ao ponto de admitir o que havia feito.

    - Não se preocupe comigo mama, por favor, você já tem muitos problemas com todos - Sara afastou o telefone do rosto e apertou o botão para encerrar a chamada - Perdoname... - ela sussurrou ao desligar o telefone na cara da mãe.

    Ela ficou observando a parede oposta, ao menos as lágrimas havia secado naqueles poucos minutos, mas a dor latente ainda fazia seu peito doer a cada vez que enchia seus pulmões de ar. Tentar se acalmar também era doloroso.

    Ela juntou as pernas, sentindo-as dormentes e então apanhou a mochila que a muito deslizara de seu ombro, guardando o celular dentro do bolso do casaco.

    Ela sentiu-se zonza quando ficou em pé, sua mão apoiando na parede enquanto ela caminhava novamente. Sua mente estava tão atordoada que ela demorou algum tempo para formar por completo a idéia que a cutucava desde que acordara naquela noite.

    "Amanhã..." - ela respondeu para ela própria enquanto sua mão envolvia a maçaneta da porta de seu quarto e ela forçava-se para dentro.

    Ela deixou a mochila cair sobre a escrivaninha e então sentou-se na cama, tirando as longas botas e o casaco da do uniforme, deitando-se então no colchão macio e virando-se para a janela. Era estúpido, mas toda a noite ela esperava que ele entrasse por ali, ela desejava isso com todas as forças até que adormecia, entre seus soluços e seu choro, mas dessa vez ela não tinha mais lágrimas e de seus lábios não escapava nenhum som.

    Ia ser uma longa noite.

    Uma longa noite, cada hora assistida, cada mudança no céu. Sabrina chegara e sequer a cumprimentara, aquela semana havia aberto um abismo entre as duas colegas de quarto, Sara estava agindo de um modo estranho, estava sempre triste e calada.

    Sara ouvia o ressonar baixo da colega com inveja, há quanto tempo ela não dormia de modo tão tranqüilo?

    O céu tornou-se mais escuro e então passou a ficar arroxeado para depois tornar-se azul e laranja. Tantas mudanças e nós só as reparamos quando estamos partidos em pedaços, quando nosso mundo não faz sentido e tentamos buscar a razão a nossa volta para continuar a sobreviver.

    Sara levantou-se do modo mais silencioso que pode e então foi até o banheiro, tomando um banho quente. Havia separado uma calça jeans e um casaco vermelho de moletom, tênis confortáveis. Ela precisava sentir conforto de alguma forma, afinal o que iria fazer não seria nada confortável.

    Sara ficou no banheiro até Sabrina perder a paciência e bater à porta, depois ficou um longo tempo escovando cuidadosamente seus cabelos. Estava adiando, ela sabia, era covarde afinal, mas ela precisava ter coragem, não poderia sentir-se aliviada apenas por jogar tudo nas mãos do pai. Se ela queria notícias de Raphael, ela também teria que fazer sua parte.

    Olhou-se no espelho, espantada com a própria aparência. Olheiras profundas estavam em volta de seus olhos e seus lábios até então rosados estavam pálidos, assim como todo seu rosto. Há quanto tempo ela não caçava? Há quanto tempo ela não bebia sangue?

    "Quando eu voltar..." - ela prometeu para si mesma e então foi até a mochila pegar sua carteira. As notas ensangüentadas de Raphael ainda estava ali, guardadas, ela não tivera coragem de usá-las ou jogá-las fora.

    O táxi parou em frente ao luxuoso Metropolitan e Sara ergueu o olhar para a sacada imponente enquanto estendia algumas notas ao taxista. Ela engoliu em seco enquanto seus olhos percorriam e entrada do lugar, as lembranças encheram sua mente e seu peito com a sensação de dor e ela inspirou longamente. Precisava fazer aquilo, devia aquilo a Raphael.

    Ela passou pela recepção, apresentando-se ao funcionário, mas assim que a porta do elevador se abriu ela sentiu a presença dele, da pessoa a quem viera procurar. Edgar Calicki estava ali e também a notara.

    - Sara - a voz dele tinha um tom grave e seus olhos eram sombrios. Sara virou-se e apoiou a mão no balcão. Ela fora ali para encontrá-lo, mas não se sentia pronta para isso - A que devo sua visita? - ele se aproximou. Vestia um elegante sobretudo e seus olhos claros fixos nos dela deixavam claro que ele estava tentando ler a mente dela.

    - Senhor Calicki, eu... - num gesto ele interrompeu Sara, olhando então para o funcionário da recepção.

    - Cancele meus compromissos dessa próxima hora, eu tenho uma reunião importante com a senhorita Augustine - ele anunciou e o empregado obedeceu sem demora - Venha, vamos para meu escritório, eu sei que se trata de um assunto delicado, para nós dois - ele a puxou pelo braço e a guiou até o elevador por onde havia descido, o aperto um pouco mais forte do que o necessário.

    Sara sentiu um calafrio correr seu corpo quando as portas do elevador se fecharam e Edgar a olhou de cima a baixo.

    - Foi uma grande perda para mim também, apesar de tudo eu a amava - ele disse e Sara sentiu o corpo gelar. Uma grande perda? Do que ele estava falando?

    Sara limitou-se a abaixar a cabeça e desviar o olhar dele, apertando as mãos dentro do bolso de seu moletom enquanto olhava para os próprios pés.

    A porta se abriu e ela quase se lançou para Fora, mas Edgar bloqueou seu caminho.

    - Ainda não é nesse andar querida, não se preocupe, eu sei que não tem culpa de nada - ele acrescentou - Cristine era uma vagabunda, eu bem sabia, mas me expor da forma como expôs foi demais até mesmo para uma vagabunda.

    A porta abriu-se novamente e Sara esperou Edgar dar o primeiro passo para só então segui-lo para fora do elevador. Todo o andar no qual desceram era um imenso escritório, com uma linda vista de praticamente toda Vancouver.

    Edgar deu a volta na belíssima mesa de vidro e mármore e sentou-se em sua confortável cadeira, indicando as cadeiras diante da mesa para a garota.

    - Sente-se Sara, o que tenho a lhe dizer são coisas graves e sei que é uma jovem delicada. Você realmente não merecia, mas sinto que ele não foi uma companhia que escolheu. Fernando jamais aprovaria - Edgar comentou e Sara ergueu os olhos para ele, suas mãos tremiam e ela as mantinha fechada em punhos. Sentiu vontade de respondê-lo quando ele disse que Fernando jamais aprovaria Raphael. Ela odiava quando as pessoas falavam como se conhecessem seu pai. Ele não era um vampiro nojento como eles, Fernando não se importaria que Raphael fosse um mestiço.

    - Eu prefiro ficar em pé - ela disse, parando em meio a sala, seus olhos correndo pelo local. Era impessoal, moderno demais. Não havia quadros na parede ou retratos sobre a mesa como o escritório de seu pai, Sara sentiu que no fundo aquele era um lugar vazio e que talvez refletisse a personalidade de Edgar, mas era melhor não julgá-lo, afinal ele também poderia estar sofrendo com o que houve, poderia ter retirado os retratos de Cristine.

    Edgar pousou as mãos sobre a mesa e ficou encarando Sara, como se tentasse entender a atitude da menina, analisando cuidadosamente a postura quase defensiva dela. Sara sequer percebia o modo como agia e como parecia ainda mais frágil daquele modo.

    "Ela não vai suportar o que vou dizer, sei que está tentando ser forte, mas parece um taça de cristal na beira de uma mesa. Olheiras, sede... tão jovem que acha que uma atitude dessas enganara alguém como eu" - ele pensou e então fechou os lábios numa linha reta enquanto ele exalava pelo nariz.

    - O que você quer saber Sara? você quer saber o que houve quando você deixou o salão? O que você disse causou uma grande confusão, grandes problemas - ele desviou o olhar dela para as mãos que estavam sobre as mesas - Eu sempre soube das traições de Cristine, mas nunca imaginei que ela planejasse algo tão vil.

    Como se um soco atingisse seu estômago Sara se inclinou para frente, a visão de Raphael ferido encheu sua mente. Agora ela saberia como ele ficara daquele modo, ela saberia como ele havia sido ferido.

    - Quando você saiu, eu creio que aquele vampiro desejava ir atrás de você. Ele ficou desnorteado olhando tudo em volta por um bom tempo, então de repente ele simplesmente se virou e começou a caminhar para a saída do salão, mas Cristine tentou impedi-lo. ele foi muito desrespeitoso com ela, diante de todos - um sorriso brotou nos lábios de Edgar, como se ele estivesse se lembrando de algo divertido, para ele fora divertido ver Cristine ser humilhada por um mestiço, por um bastardo.

    Sara passou a língua pelos lábios, sentindo um gosto amargo, a cena parecia se desenhar perfeitamente em sua mente, como um filme de horror e ela era a culpada por aquilo.

    - Então, aquele garçom humano com o qual você conversou durante um bom tempo foi tentar acalmá-lo, pobre moço. Acho que todo o ódio de Grifftis foi despejado nele quando ele arrancou seu coração - Edgar tornou a olhar Sara, lívida, a vampira parecia prestes a desabar nos próprios joelhos. Ela seria capaz de ouvi-lo até o fim?

    Sara levou a mão ao peito, apertando com força ali. Era como se seu coração estivesse sento cortado por todos os cacos de vidros que ela viu espalhados pelo carpete do quarto de hotel quando acordou. Sara estremeceu, Raphael havia matado aquele pobre por culpa dela, com certeza ele jogaria aquilo em sua cara na próxima oportunidade.

    - Os convidados ficaram horrorizados, acho que consegue imaginar como os humanos ficaram com a cena e Cristine resolveu intervir. Ela estava furiosa pela humilhação, pelo modo como ele a tratava, chamando-a de vagabunda em alto e bom tom. Sinceramente eu não entendi o que ele queria com aquilo. Suicídio? Creio que ele conseguiu.

    Sara passou a língua pelos lábios, a garganta parecia ter secado e o ar parecia chegar aos pulmões com dificuldade.

    - ... - os olhos de Sara encaravam Edgar com dificuldade, como se ele fosse a porta aberta de um pesadelo, como se ela estivesse afundando e por dentro ela estava. Afundando em culpa, na lama de seus próprios atos. Ela nunca pensou que as conseqüências poderiam chegar tão longe. Na verdade ela sequer pensou nas conseqüências.

    - Cristine - Edgar continuou - Ela avançou nele, acertando-o, fazendo-o sangrar e ele gemeu de dor. Eu comecei a ficar farto daquele show, eu tive que interferir, pois os dois perderiam o controle e na verdade... eu era um dos maiores prejudicados pelas palavras dele - Edgar suspirou - Ele também me provocou quando me aproximei e mais uma vez eu me perguntei se aquilo era arrogância ou simplesmente vontade de morrer. Eu estava muito disposto a atender o pedido dele, não tanto por sentir raiva daquele pobre bastardo - as mãos de Edgar fecharam-se sobre a mesa - Mas pelos pensamentos que eu via claramente e que muitos não se preocupavam em ocultar, principalmente os nossos, sobre o como Cristine havia me enganado fácil. Um mestiço bastardo era o suficiente para que ela abrisse as pernas. Ah Sara, você também sentiu isso, não é? Sentiu raiva!

    Sara sentiu o rosto gelar quando o vampiro de sangue puro ergueu o olhar para ela. Havia uma espécie de ódio endurecido em seu olhar, em sua postura. Não, ela não havia sentido aquilo.
    - E depois? - ela limitou-se a perguntar. Seu estômago parecia ter se grudado nas costas e o sangue parecia ter parado em suas veias. Ela sentia-se morrer, mas precisava ouvir até o fim, precisava de qualquer pista dele.

    - Eu o atirei pela vidraça - Edgar deixou seu olhar passar por Sara, seus olhos caindo nos vidros atrás dela. A sala de Edgar tinha uma visão panorâmica, a única parede que não tinha vidros era a do elevador - Eu não o matei em respeito ao pai dele, mas acho que foi em vão afinal... - ele deixou o ar escapar lentamente pelos lábios.

    Sara virou o rosto lentamente, encarando os vidros. Ela sabia que não havia sido ali, que havia sido no salão, mas imaginar o corpo de Raphael caindo no ar, ferido, o impacto. Ela se abraçou com mais força, sabia que teria morrido se fosse ela no lugar dele, mas Raphael era resistente como o gelo que controlava.

    Sara fechou os olhos, sentindo-os arderem, úmidos pelas lágrimas que se formavam novamente. Mais uma vez como num filme ela era capaz de ver tudo, o vidro se estilhaçando em câmera lenta, os milhares de pedacinhos cintilando sob o céu onde clarões dos raios se espalhavam, o rosto pálido e ferido de Raphael.

    "Não!" - ela tremeu, os joelhos quase dobrando, um soluço escapando por seus lábios pálidos. ela não notou quando Edgar se aproximou, mas ele envolveu seus ombros e a levou até uma das cadeiras em frente à sua mesa. Aquela apesar de tudo não era a parte mais difícil.

    Sara deixou-se guiar, suas pernas pareciam pesar toneladas, enquanto o resto de seu corpo parecia frágil demais.

    - Eu não o matei Sara, mas eu... - Edgar cerrou os lábios de maneira dura, numa linha reta - Depois de jogá-lo eu fiquei ali observando. Ele ficou imóvel por um bom tempo, seus olhos perdidos no nada. Pensei que iria se desfazer num monte de cinzas, mas ele estava vivo. Ele era muito resistente.

    Era. A palavra fez Sara ofegar, colocando a mão sobre a boca, apertando o punho contra os lábios para abafar os sons que teimavam em encher sua garganta, seu corpo tendo um espasmo. Era culpa dela, tantas mortes por culpa dela.

    - Cristine fugiu enquanto eu estava lá e eu não me dei ao trabalho de ir atrás dela. Ela sabe que seria morta pela acusação, seria condenada, tantas testemunhas. Eu fiquei lá, limitei-me a ordenar que meus amigos apagassem as memórias dos humanos, que os levassem para casa. Depois mandei levarem o jovem morto para a estrada e queimarem o corpo depois de simular um assalto. Pobre humano, nunca vou me esquecer de seus olhos - ele apoiou-se de costas na mesa e ficou observando Sara.

    - Na manhã seguinte eu resolvi procurar por Cristine e descobri algo bastante interessante. Muitas notícias, todas relacionadas - ele passou a língua pelos lábios, perguntando-se se deveria ou não confortar Sara. Talvez não, talvez ela visse nele alguém que não era de confiança, um inimigo - Cristine foi para a Inglaterra - ele anunciou, esperando que aquela notícia fizesse algum efeito sobre a menina, mas Sara permanecia de cabeça baixa, ainda tentando inutilmente se controlar.

    Edgar ficou em silêncio, erguendo sua mão pálida e alisando os fios desgrenhados do cabelo da mestiça. Estavam sem brilho, sem vida, assim como ela. Ela deveria estar com sede, com muita sede pois estava perdendo a beleza que marcava o que era.

    Sara ergueu a cabeça quando o silêncio se prolongou e encontrou o olhar de Edgar sobre ela, pesaroso. Ela abaixou novamente os olhos para os joelhos, suas pernas tremiam, ela deveria estar num estado deplorável, ao menos era isso que o olhar do outro vampiro indicava.

    - O que tem a Inglaterra? - ela perguntou num tom rouco, mortificado.

    - Sara, talvez seja melhor esquecer essa história, tenha certeza que aquele jovem não merece a importância que está dando aos fatos, não merece seu sofrimento e... - ele se calou quando Sara ergueu o olhar novamente para ele, inquisidor, como se ele nada fosse para falar alguma coisa - Tudo bem - ele tornou num tom apaziguador - Eu lhe contarei o resto, mas antes... - Edgar se afastou dela.

    Ele caminhou para o fundo da sala, para um dos armários e então tirou uma taça de lá e uma garrafa de vinho.

    - Seu pai é um grande apreciador de vinhos não é Sara - ela moveu a cabeça lentamente e encarou Edgar que estava de costas, sem entender o que ele queria dizer com aquilo, ou porque segurava a garrafa - Você bebeu uma taça na festa.

    O cheiro doce e ácido da uva chegou as narinas de Sara, fazendo sua garganta arder imediatamente, não havia apenas uva fermentada ali, havia algo a mais que fez os olhos dela acenderem-se com voracidade.

    - Como eu imaginava - Edgar suspirou e então ergueu o pulso até a boca, deixando as presas ferirem a pele, o sangue escorrendo, manchando sua manga camisa azulada e imaculada. Sara ergueu-se da cadeira, sua mente parecia ferver enquanto ela assistia as gotas de sangue escorrerem, pingarem e se misturarem ao vinho que já continha sangue - Você está morrendo de sede, não é?

    Sara passou a língua pelos lábios, sentindo-os secos, rachados. O sangue de um puro era atrativo mesmo quando não se tinha sede, no estado em que ela estava era praticamente irresistível.

    Edgar aproximou-se e estendeu a taça para ela por um momento os olhos de Sara se apagaram. Aquele gesto, tão parecido quanto o de Raphael na festa fez os impulsos de Sara refrearem.

    - Pode beber Sara - ele incentivou ao perceber que algo parecia ter parado a garota - Ou você prefere... - ele semicerrou os olhos e então trocou a taça de mão, estendendo o pulso para ela.

    Como num passe de mágica os olhos dela tornaram-se a se acender e ela avançou, como um animal descontrolado e sedento, suas presas penetrando a pequena ferida e a alargando-a.
    O sangue de Edgar era amargo e estava ainda mais acentuado pelo ódio que sentia pelo que acontecia. A cada gole Sara assistia em sua mente mais uma vez a cena de destruição de Raphael, a morte do jovem garçom e a fúria de Edgar, trancando sozinho em seu quarto, arremessando objetos, enlouquecido pelo ciúme. No fundo ele amava Cristine, por isso aceitava suas traições.

    Sara queria se afastar, parar de beber aquele sangue, parar de ver toda aquela dor, mas seus lábios sugavam com voracidade, suas presas pareciam prestes a partir o pulso de Edgar.
    Como um pai compreensível ele apenas acariciava os cabelos dela, mas logo a carícia tornou-se mais forte, os dedos enroscando-se nos cabelos dela e a puxando, afastando-a como se ela fosse um animal a ser domado.

    - Controle-se - a voz de Edgar saiu baixa, letal e Sara sentiu seu corpo endurecer. O poder de um vampiro de sangue puro, uma indução contra a qual ela não poderia ir contra, mesmo que sua mente estivesse enlouquecida pela sede.

    Sara fechou os olhos, seu peito subia e descia numa respiração ruidosa. Ela passou a língua pelos lábios limpando o sangue de Edgar, sentindo-se ainda mais sedenta.

    - Essa insatisfação é terrível, não é? - ele perguntou enquanto Sara pousava as costas das mãos sobre os lábios - Você bebeu longos goles, mas ainda está com sede. Estaria satisfeita em qualquer outro momento, afinal o sangue de um puro é o mais poderoso que existe, mas não consegue se satisfazer - ele levou o pulso até a boca e cicatrizou a ferida, estendendo a taça de vinho para Sara.

    Confusa, ela apanhou o vinho e bebeu, esperando que aquilo diminuísse o ardor em sua garganta. Diminuiu, mas logo a sensação de que precisava de mais sangue, de que algo faltava estava ali novamente.

    - Cristine... - Edgar suspirou enquanto olhava para Sara - Por mais que me deleite com todo o sangue que consiga, eu ainda sinto sede. Você não entende, não é? - ele fechou os olhos - Não importa o que faça a partir de agora, você sempre sentira essa sede - ele negou com a cabeça, parecia um pouco atormentado.

    Sara fechou mais uma vez os olhos, tentando se controlar, ela não queria ouvir sobre Cristine, ou sobre o quanto Edgar estava sofrendo. Era egoísta, mas ela estava ali por Raphael e somente por ele.

    - O que houve na Inglaterra? - ela disse e Edgar riu sem humor. sara não fazia a mínima idéia do que ele estava falando e parecia pouco disposta a entender que ela sempre sentiria sede, desejo por um sangue que nunca mais teria.

    - Cristine fugiu para a Inglaterra e nessa mesma noite Alexander Grifftis foi assassinado - Edgar disse e Sara sentiu as têmporas latejarem. Grifftis, o sobrenome era o mesmo, mas não o nome. Quem seria Alexander Grifftis? Ela conhecia tão pouco de Raphael afinal - Raphael estava com você, não é verdade? Ele se foi e nada disse, não é? - Mais uma vez Edgar esperava, tentando compreender as reações de Sara, mas ela parecia perdida.

    - Sim... - ela respondeu depois de algum tempo, engolindo, a garganta arranhando, fechando. A imagem que ela nunca esqueceria, o cheiro de sangue que se espalhava pelo quarto, o olhar dele. Ela sacudiu a cabeça.

    - Eu não sei exatamente o que houve, mas naquela manhã eu enviei alguns dos meus homens atrás dela, caçadores mercenários, humanos sem escrúpulos. Eles a mataram, ela estava próxima à mansão da família Grifftis - outra pausa, Sara estaria enxergando agora as peças do quebra cabeça?

    Os braços de Sara caíram ao lado do corpo, seu olha se perdendo na imagem de Edgar diante dela, depois além dele, como se ele sumisse de seu campo de visão. Ela entreabriu os lábios, mas nenhum som escapou.

    - Alexander Grifftis é o pai de Raphael - Edgar completou, mas sentia que agora alguns fatos começavam a fazer sentido para a jovem vampira.
    O corpo de Sara balançou, como se fosse uma folha solta na brisa da tarde e sua visão turvou. Assassinado, o pai dele havia sido morto, Cristine estava perto e ele havia desaparecido, aquilo só podia significar...

    - Eu creio que Cristine o matou, Sara. Uma emboscada, ela sabia que ele iria até a mansão. Antes de morrer ela certamente o matou -a voz de Edgar parecia vir de longe, como se Sara estivesse mergulhando e alguém lhe dissesse algo.

    Morto, Raphael Grifftis havia sido morto. Era tão óbvio afinal. Ele estava tão fraco, mesmo que ela tivesse feito o melhor que podia tentando fechar suas feridas o sangue dela era fraco, inútil perante ao poder de Cristine, ou perante ao poder de qualquer outro que tenha matado o pai dele.

    A taça escorregou dos dedos de Sara, rolando pelo carpete, manchando-o com o restante do conteúdo. Sara recuou um passo, sua cabeça movendo-se lentamente, negando. Ela não podia aceitar aquilo.

    - Sara - Edgar alarmou-se, a vampira diante dele estava tão lívida que parecia prestes a se desfazer, os olhos sem foco, o corpo prestes a desabar. ele lançou-se para frente a tempo de ampará-la quando os joelhos dela se dobraram.

    Morto e por culpa dela. Morto porque ela quis vingança. Raphael Grifftis estava morto e ela nunca mais o veria. Aquilo não trouxe alívio algum, a dor a rasgou em milhares de pedaços enquanto sua mente oscilava entre a inconsciência e a imagem de Raphael.

    - Não! - o gritou saiu, rasgando a garganta, como um animal ferido, as mãos dela apertando os braços de Edgar com força. surpreendendo até mesmo ao vampiro. As lágrimas que pareciam ter desaparecido agora voltavam a descer por seu rosto.

    - Sara, acalme-se! - Edgar tentou ordenar, tentando mantê-la em pé. Sabia que ela estava sofrendo, era visível, entendia o sofrimento dela.

    - Não... - ela soluçou, apoiando a cabeça no peito do outro vampiro, sem se importar com o fato de que, indiretamente, ele tinha culpa pela morte de Raphael. Naquele momento ela achava que a culpa era exclusividade dela.

    Edgar segurou firmemente os ombros de Sara, guiando-a mais uma vez até a cadeira, onde ela sentou-se e cobriu o rosto com as mãos, os cabelos caindo para frente enquanto ela se curvava.

    Como um veneno se espalhando por suas veias, a dor parecia tomar cada parte de seu corpo naquele momento e ela sentia-se incapaz de suportar.

    De tudo que havia acontecido, de todas as sensações que havia descoberto, tudo que Raphael revelara para ela, o fato de perdê-lo parecia significar que perdera uma parte dela. A dor profunda parecia arruiná-la, a culpa consumia sua consciência com a certeza de que nunca mais o veria.

    Imagens e mais imagens, o rosto dele surgia estampado em sua mente, espalhando ainda mais dor, assim como seu sangue espalhara pela primeira vez.

    Todo aquele mistério que o envolvia, toda aquela dor que ele carregava e que ela nunca pode descobrir o real motivo. Ele nunca se revelara e ela não teria outra oportunidade.

    Longos minutos se passaram, agora debruçada sobre a mesa, exausta pelas próprias lágrimas, pelo peso das lembranças, ela tentava entender porque ele tinha tanta importância. Parecia conhecê-lo a anos, parecia que ele sempre fizera parte de sua vida e aquilo fazia doer mais.

    A manga de seu moletom estava úmida pelas lágrimas, atrás dela Edgar afagava seu ombro, mais uma vez como um pai compreensível, afinal ele partilhava também da dor da perda.
    Raphael não era bom, nada do que ele fizera para Sara fora bom, ainda assim ela queria que ele estivesse ali, mesmo que para parti-la ao meio, mesmo que para humilhá-la e confundi-la como naquela noite no hotel.

    - Sara - Edgar não queria interrompê-la, mas ele não poderia ficar com ela por toda a tarde. A notícia já havia sido dada, ela tinha que entender que aquele garoto escolhera seu próprio destino, como ela mesma havia dito para ele - Sara, você quer que eu a leve para o colégio? Você não terá condições de retornar sozinha, posso levá-la de carro.

    Sara demorou alguns segundos para entender ao que Edgar se referia. O colégio, ela simplesmente havia saído do colégio sem avisar ninguém e estava surpresa pelo fato de seu pai não ter sido avisado até aquele momento. Mas o mesmo ocorrera com Raphael, poucos se importaram com a ausência dele.

    - ... - ela sabia que ele tinha razão, se ela conseguisse sair daquele hotel seria muito, mas voltar a Academia só traria mais lembranças dolorosa - E-eu... eu quero... - numa voz quase sumida Sara tentou começar uma frase.

    - Ficar aqui? - Edgar entendeu a intenção dela,mas ele não achava uma boa idéia que a jovem filha de Fernando Augustine ficasse ali depois do que havia acontecido - Sara, seria uma honra tê-la hospedada aqui, mas depois do que houve eu acho que não seria o melhor, principalmente para você. Sua vinda aqui já gerara muitos comentários. Você não tem culpa no que houve, mas você deve saber como é nossa sociedade.

    Culpa. Ela sentiu a raiva queimar dentro dela quando Edgar disse que ela não tinha culpa, seu coração parecendo se transformar numa pedra de gelo, pesada, cheia de lascas.

    - Eu vou levá-la Sara, seu pai será avisado e ficara preocupado. É o melhor a se fazer agora - ele se afastou e deu a volta na mesa, abrindo uma gaveta e tirando as chaves de seu carro. em seguida ele acionou um dos botões do telefone na mesa e pediu que cancelassem as reuniões dele naquele dia.

    - Talvez seja melhor você retornar a Espanha Sara, eu não sei qual o tipo de relação que você tinha com Grifftis ou sua família, mas se não foi Cristine quem fez isso, se foi outro, você também pode estar em perigo - ele tornou a se aproximar dela.

    Sara ergueu um olhar mortificado para ele, seu rosto pálido tinha manchas vermelhas, as olheiras pareciam ainda mais fundas depois do tempo chorando.

    Voltar para a Espanha não era uma escolha, ela voltaria com muitos problemas, arrastando mais preocupações para Clara e Fernando. Além disso, Sara teria que explicar o que houve e ela sabia que jamais seria capaz, não por admitir culpa, mas havia muito entre ela e Raphael que deveria permanecer oculto, principalmente aos pais dela.

    - Venha - a voz de Edgar tinha um tom baixo e Sara obrigou as pernas a se firmarem enquanto ela levantava. Foi difícil, seu corpo parecia num estranho estado de torpor, cansada demais, vazia demais.

    Os olhos de Sara se fecharam quando o carro deixou o estacionamento, o céu azul exibia um sol brilhante, algo que não coincidia com o modo como ela se sentia. ela demorou um bom tempo para se acostumar com a claridade, com as cores da estrada.

    Edgar dirigia da mesma maneira veloz que Raphael, mas Sara não se importou com os empuxos de seu corpo, nem com as batidas contra o banco. Que diferença fariam afinal?
    Os olhos dela vagavam pelas estradas e pelos carros sem nenhum ponto fixo, mas ao menos as lágrimas haviam parado de rolar. As mãos estavam caídas sobre o colo, as palmas viradas para cima.

    - Eu sinto por você - Edgar disse sem tirar os olhos da estrada - Eu sei como é isso, amar a pessoa errada. Você é jovem Sara, vai se recuperar disso.

    - Vou - ela afirmou num tom seco. em sua mente outras idéias começavam a tomar lugar, idéias que ela mais uma vez não entendia, instintos que a impulsionavam a algo. Mas o que?
    Edgar tornou a ficar em silêncio, sabia que Sara não estava prestando atenção ao que ele dizia, ele também havia ficado cego pela dor, mas ao que parecia Raphael fora o primeiro "namorado" de Sara, o que era fácil de se adivinhar já que Fernando nunca deixou a filha sair de casa. Era compreensível que na primeira oportunidade longe dos pais ela aproveitasse. Ele sequer fazia idéia do que realmente havia acontecido.

    As horas de viagem passaram e o sol se punha quando finalmente chegaram a Academia. Edgar a deixou em frente a entrada e qualquer um que a visse não a reconheceria. A Sara sorridente, cheia de vida havia dado lugar a uma sombra que quase se desfazia em pleno ar.

    Sara ficou de costas, ouvindo o carro partir e então caminhou em direção aos portões, mostrando seu crachá de identificação de estudante. Os portões de ferro foram abertos e ela arrastou seus passos para dentro.

    Os três prédios do colégio encheram sua visão, mas ela não tinha a menor intenção de entrar, de assistir às aulas ou até mesmo de ir ao dormitório.

    Sua cabeça latejava, seu corpo estava dolorido pelas longas horas sentadas no banco do carro, as freadas brusca de Edgar e pela própria dor da perda de Raphael.

    Inconscientemente ela caminhou e caminhou, afastando-se dos prédios mais e mais, até chegar ao grande lago que havia na Academia. Um país de lagos e rios, era assim que definiam o Canadá. Ela sentou-se na grama e ficou observando a paisagem em silêncio.

    A neve cobrindo o topo das montanhas ao longe fez o coração de Sara se apertar, lembrando-se dos cabelos de Raphael, do modo como eles caiam sobre os olhos azuis e o deixavam com um ar de mistério. Ela nunca mais veria aquele olhar.

    Sara abaixou a cabeça, os cabelos caíram sobre o rosto, o vento soprando um pouco mais frio, lembrando que a noite já estava chegando. Frio, como Sara poderia esquecer-se de Raphael se ele parecia impregnado em tudo que a cercava?

    Ela sentiu os olhos umedecerem novamente, recomeçaria a chorar, mas o celular tocou e ela se asssustou, retirando o aparelho do bolso enquanto com a outra mão secava as lágrimas. Seu pai, ela tinha que se esforçar para melhorar sua voz ao menos para não alarmá-lo mais.

    - Alo? - ela atendeu, a voz saiu rouca, fraca, deixando claro que ela estava chorando e que havia chorado por muito tempo.

    - Filha - a voz dele parecia pesarosa, ficando ainda mais preocupado ao ouvir a voz dela - Nós vamos visitá-la essa semana, tudo bem? - a frase a teria deixado animada em qualquer outro momento, mas o tom preocupado do pai, a visita inesperada, tudo deixava claro que ele trazia apenas uma confirmação do que Edgar havia dito.

    - Ele está morto, papai - Sara disse com a voz embargada pela dor, os soluços escapando da garganta em seguida, mas ela precisava poupar o pai. Eles não podiam viajar o tempo todo, era perigoso com tudo o que estava acontecendo, mas dizer aquilo a fez desmoronar mais uma vez.

    - Sara... - a voz de Fernando era cheia de pesar, ele sequer podia consolar sua menininha e ele queria muito fazer aquilo naquele momento - Ah meu amor... eu sinto tanto por você. Eu sei que você não quer que eu me preocupe, mas Sara, vamos viajar, vamos vê-la, você precisa de nós - ele acrescentou e ela se sentiu ainda pior.

    "Por minha culpa... meus pais se arriscando, Rapha morto..." - ela abraçou=-se, a mão apertando o peito. Como alguém conseguia sentir tanta dor e ainda sim não partir ao meio? Raphael. Tanta dor e ele ainda caminhava, ele ainda se levantava, mas por culpa dela...

    - Papa... - ela não conseguiu dizer mais nada. Não queria que os pais viajassem, não queria que eles se sacrificassem por ela. Não valia a pena - ... - mas ela não conseguiu dizer mais nada, o choro, o nariz fungando, os soluços, isso foi tudo o que Fernando ouviu até finalmente desligar. Talvez fosse melhor deixá-la sozinha, dar um tempo para que ela esgotasse as lágrimas. Ele podia imaginar a dor que ela sentia.

    O aparelho escorregou das mãos de Sara e caiu sobre a grama enquanto ela abraçava os joelhos, seu pequeno corpo impulsionado pelos espasmos do próprios choro. Não era só culpa por tê-lo perdido, agora as saudades enchiam o peito de dela, a dor por saber que era verdade tudo o que Edgar lhe dissera, a confirmação de que nunca mais o veria.

    - Não!Não!Não! - ela bateu os punhos fechados com força no chão, ferindo as mãos. Não! Ela não poderia ficar simplesmente ali parada, não poderia simplesmente aceitar que ele havia morrido, ela tinha que saber o que acontecera de verdade, não importa o risco que poderia estar correndo, ela só queria saber a verdade.

    Seus pensamentos pareciam girarem e girarem loucamente, ela não sabia ao certo como faria aquilo, mas ela daria um jeito, ela precisava ir a Inglaterra, precisava ir a casa de Raphael, precisava de algo mais concreto do que palavras. Sabia que seu pai jamais mentiria, mas ela precisava, mesmo que por uma última vez, mesmo que uma última lembrança.

    Num impulso ela se ergueu, aproveitando a coragem que de repente havia se instalado nela e começou a caminhar de volta para os prédios. Novamente encheria sua mochila de roupas, ela levaria dinheiro, ela faria o que fosse preciso. Só ligaria para os pais quando estivesse na Inglaterra, depois ele poderia arrastá-la de lá, mas antes ela precisava. Não sabia bem o que procuraria lá, mas ela sentia que precisava de algo que só encontraria na Inglaterra.

    Uma longa caminhada, o corpo cansado tornava tudo mais lento, mas ela conseguiu alcançar as construções e assim que divisou o primeiro prédio seu corpo estacou.
    - ... - O coração de Sara pareceu parar, seu corpo congelando, sua pernas endurecendo e sua visão turvando. Como cordas de tensionadas de um violino, dentro dela uma estranha sensação vibrava.

    Ela não conseguia acreditar, ela não conseguia entender, mas ela impulsionou-se para frente, obrigando as pernas a serem rápidas, obrigando seu coração a pulsar e ele pulsou, como se estive liberto do gelo que o havia cercado, como se começasse a partir os espinhos que cercavam seus pulmões.

    Ela subiu as escadas de maneira desajeitada, parecia estar bêbada, mas assim que alcançou o topo e passou pelas portas duplas do prédio designado às salas de aula.

    Mais passos desajeitados, outra corrida bêbada pelos lances de escadas, sem se importar com os olhares que se voltavam para ela. Alguns exprimiam pena, como se já soubessem o que ela iria encontrar, outros apenas desprezo por sua imagem decadente, mas ela ignorava tudo, sentindo suas veias vibrarem, sua mente queimar.

    O corredor que guiava a sala de música nunca pareceu tão longo e tão frio, escuro, mas quando ela alcançou as portas altas de madeira e sua visão finalmente se firmou ela quase caiu de joelhos.

    Ele estava ali, estava em pé, seu rosto perfeito não guardava nenhuma marca e ele sorria de um modo como em seus sonhos mais secretos. Raphael.

    O alívio e a alegria por vê-lo ali durou apenas um segundo e mais uma vez ela sentiu-se pesada. Florensce também estava ali, estava com ele, entre os braços dele.

    Como um professor ele se postava atrás dela, ensinado-a a maneira correta de segurar o violino, as costas dela encostadas no peito dele, num lugar que Sara costumava a ocupar.

    - Sara! - Florensce exclamou alegre ao vê-la, sorrindo abertamente, mas Sara não conseguia se mover. Parecia anestesiada enquanto encarava aquela cena, enquanto encarava Raphael Grifftis, mas ele... ele sequer ergueu o olhar para ela.


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